FONTE: ESTADÃO NOITE
Leilão do IRB: por que não preservá-lo?
O governo federal estuda a alternativa de leiloar sua participação na resseguradora IRB Brasil Re em substituição ao projeto inicial de promover uma oferta pública de ações (IPO).
A ideia está em estudo pela equipe econômica e tem por objetivo fazer caixa para a União. A lógica, neste momento de crise, não parece nem um pouco distante do discurso privatista da era FHC, que levou o governo a se desfazer de um considerável número de estatais.
Assim como o governo Fernando Henrique Cardoso, que privatizou sem benefícios as Comunicações por uma mera ideologia financista, o governo Lula e, agora, o governo Dilma — que entregaram missões importantes nas mãos de aliados nem tanto alinhados — reconduzem os seguros brasileiros à selva selvagem.
A promessa e a definitiva privatização do IRB acabaram demolindo o conteúdo dos seguros brasileiros, especialmente os de grandes riscos, essenciais para as obras e atividades industriais, comerciais e logísticas. O cenário é o pior possível.
Enquanto os seguros perdem conteúdo, com a ajuda de intervenções atrofiadoras pela Susep (Superintendência de Seguros Privados), e setores da sociedade se veem sistematicamente sem acesso aos seguros de que tanto precisam, o IRB teve em 2015 o maior lucro líquido de sua história — R$ 764 milhões, praticamente o dobro de 2014 — e uma participação de 34% no mercado de resseguros no Brasil.
Surpreendentemente, a União, a maior acionista do IRB, em vez ficar com esse “negócio da China” e usar sua golden share para transformá-lo novamente em instrumento útil para o desenvolvimento e o crescimento econômico do País, só pensa em fazer caixa. Essa tem sido a tônica desde o início dos anos 1990.
Ao mesmo tempo, a temida Segurobrás criada por Dilma já foi domesticada e acabou sendo mais um escaninho obscuro da burocracia brasileira.
O quadro é sombrio e as soluções que se apresentam apontam para um futuro nada animador para esse mercado.
Ernesto Tizirulnik, presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro (IBDS)